segunda-feira, 5 de maio de 2008

A FRAQUEZA DO PRAGMATISMO


Jules Henri Poincaré (1854-1912)


"A linha recta não existe; eu traço-a porque quero; e pura porque a quero pura. Traçá-la é até uma fraqueza. A recta é tão bela entre duas estrelas! Só o espírito a mantém. Assim são os nossos melhores pensamentos."

"Histoire de mes pensées" (Alain)


Poincaré é citado nesta passagem por ter dito que o pragmatismo deveria ser considerado como uma falta de coragem.

A geometria com que medimos o mundo não está nele, mas em nós, ou melhor no encontro dos dois.

Se abandonámos a primeira ideia da órbita planetária, seguindo nisso Kepler, é verdade que a elipse está em nós, mas não chegaríamos a ela se não passássemos a considerar os outros objectos do sistema.

Mas a frase de Poincaré talvez não se deva aplicar à política, dados os erros monumentais a que nos expõe normalmente a doutrina, coisa de que os que "navegam à vista" parecem precaver-se.

O político pragmático, que sabe "meter as ideias na gaveta" encontra uma fácil justificação no facto da política ser sempre imprevisível e a nossa ignorância sobre o futuro mais do que certa.

Enquanto que o pragmatismo não leva a qualquer descoberta no campo da ciência, pois que só podemos por à prova teorias que não podemos induzir da experiência, é óbvio que a realidade política é muito diferente, por envolver pessoas e vidas, o que torna a experimentação, eticamente pelo menos, não permissível.

Mas é onde a política impõe escolhas que as ideias encontram o seu lugar.

O pragmatismo revela a sua verdadeira face (a falta de coragem de que falava Poincaré), quando, nesse momento de liberdade, recua perante as pressões do momento, por falta duma ideia motivadora.

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