Werner Heisenberg (1901/1976)
"O processo patogénico deixava-se agora reconstruir com facilidade. Para ficarmos por um exemplo simples, uma tendência isolada tinha surgido na vida psíquica, tendência à qual outras, poderosas, se haviam oposto. O conflito psíquico então nascente devia, segundo a nossa expectativa, seguir um curso tal que as duas grandezas dinâmicas - chamemos-lhes instinto e resistência - lutassem uma contra a outra por um tempo, a consciência tomando poderosamente parte no conflito, e isto até que o instinto tivesse sido repudiado e despojado do seu investimento energético. Eis a solução normal."
"Ma vie et la Psychanalyse" (Sigmund Freud)
Adiante, Freud explica como na neurose aquela energia conserva toda a sua eficácia, apesar do conflito se ter tornado inconsciente, graças ao processo que ele chamou de recalcamento.
Compreende-se segundo este modelo energético, em que "nada se cria, nem nada se perde", que, nos casos normais, uma parte da energia seja consumida pelo conflito e outra nalguma satisfação tolerada, sem deixar qualquer resto metafísico.
Assim, falando de forças e energias, parece que Freud abria a porta a uma qualquer futura medida ou ponderação do mundo psíquico. E é interessante pensar que Simone Weil chegou a algo de semelhante a propósito da graça espiritual, acreditando que à atenção pura aplicada num determinado sentido devia corresponder uma alteração física.
Mas não é preciso postular a transcendência do mundo espiritual para invalidar qualquer pretensão científica à psicanálise, e podíamos mesmo partir do princípio que estávamos a lidar com a pura "realidade material". A aproximação de alguns conceitos e tendências da física moderna ao que tradicionalmente sempre se considerou do domínio da metafísica é esclarecedora.
Compreendemos então por que é que os chamados conflitos psíquicos podem estar tão fora do conhecimento objectivo quanto a localização duma partícula conforme o princípio da incerteza de Heisenberg.
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