domingo, 18 de maio de 2008

O ELO DA ATENÇÃO



"A falta de atenção dos alunos, de que todos os professores se queixam, não é senão uma das formas desta nova consciência cool e desenvolta, ponto por ponto análoga à consciência telespectadora, captada por tudo e por nada, ao mesmo tempo excitada e indiferente, sobressaltada pelas informações, consciência opcional, disseminada, nos antípodas da consciência voluntária, "intro-determinada".

"A Era do Vazio" (Gilles Lipovetsky)


Se entramos numa era de "indiferença pura, com o desaparecimento dos grandes fins e grandes iniciativas que merecem o sacrifício da vida", evitamos, ao mesmo tempo, "os sobressaltos da religiosidade histórica (*) e os grandes desígnios paranóicos."

É talvez essa a origem do fenómeno conhecido pelo "politicamente correcto" e duma tolerância que se confunde com o relativismo moral.

Mas num mundo globalizado, que toma consciência dos seus violentos contrastes, essa apatia confronta-se com o que lhe é mais oposto - e lhe recorda o seu próprio passado - , sob a forma do fanatismo político-religioso.

A mudança do tipo de atenção, no Ocidente, devida aos novos media e às novas formas da cultura, não deve, contudo, levar-nos a pensar que se trata dum indício duma decadência já vista, cercada pela vitalidade dos novos bárbaros.

Desde logo porque, apesar das diferenças gritantes, o modelo de cultura fundado na tecnologia impõe-se mesmo aos que sonham lançar-se ao assalto do império.

O nuclear, como um deus sem povo, nem cultura, unindo as duas pontas do arco, é disso o melhor sinal.


(*) A tradução é de Miguel Serras Pereira e Ana Luísa Faria para a "Relógio d'Água";
no contexto, o adjectivo histérica, parecia-me mais adequado, do que histórica.

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