quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

DUAS PEDAGOGIAS



"(...) Ésquilo
- Mas, por Zeus, não criei Fedras prostitutas, nem Estenebeias, nem me consta que jamais representasse uma mulher apaixonada.
(...)
Eurípides
- Acaso não é real a história que compus sobre Fedra?
Ésquilo
- Por Zeus, que é real. Mas o poeta deve ocultar o vício, e não estadeá-lo e ensiná-lo. Porque às criancinhas, é o mestre que as ensina; à juventude, são os poetas. O nosso dever é dizer apenas coisas honestas,"

"As Rãs" (Aristófanes)


Glosando uma ideia de K. Popper relativa aos tipos de conhecimento, poderíamos chamar de pessimismo pedagógico ao partido de Ésquilo, como se representa nesta peça de Aristófanes, e de optimismo ao de Eurípides.

Porque o primeiro pensa que a verdade ou o real não podem ser ministrados a todos da mesma maneira, como o não podem ser, por igual, a todas as idades, havendo sempre o perigo de corromper ou de confundir as pessoas.

É a posição de Platão que defendia uma estrita censura da música e da poesia (meios de formação e educação privilegiados no seu tempo), mas poderíamos ver aqui uma estratégia da nobreza para manter a sua supremacia cultural e política.

O outro poeta é declaradamente democrático e a igualdade é o seu deus.

O partido de Eurípides venceu com a democracia. E o que é "honesto" é dizer e mostrar tudo (com a ineficaz excepção dos muito jovens), em nome da realidade e da verdade dos factos.

E só não é integralmente assim porque este princípio é temperado por tradições que nada devem à democracia.

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