Favela da Rocinha
Para encontrar algo de parecido na virulência e consistência profética do seu ataque à sociedade "legal" e ao Estado, teríamos de pensar na guerrilha revolucionária que se reclama duma caução da "ciência histórica" ou da religião.
Mas Marcola, o chefe dos gangs de S. Paulo, que da prisão já comandou uma insurreição, não pretende derrubar o regime (ver entrevista ao jornal "O Globo"). Para quê? Não podia escolher a sua espécie de satanismo, sem o lado do "Bem". De resto, como ele diz, problemas sociais como o das favelas simplesmente não têm solução (seriam precisos "biliões de dólares" e uma "tirania esclarecida"), e, então, é como se não houvesse Deus e tudo fosse permitido.
Deste impasse, cinicamente verificado, extrai um direito à represália e ao protagonismo dos historicamente desfavorecidos que, através do crime organizado, anunciam o advento duma autêntica mutação moral e do verdadeiro niilismo.
Da sua prisão, lembra um Hannibal Lecter popular que, ao mesmo tempo que proclama a sua superioridade trágica sobre os valores duma "cultura assassina", é visível a sua tentativa de conquistar o reconhecimento intelectual do mundo que condena à escatologia.
E a sua recorrente utilização do nome de Dante, como o poderia ter feito a personagem do "Seven" de David Fincher, é justificada muito para além de ser o autor do "Inferno".
A própria entrevista e a ideologia que consente em explicar-nos retiram-lhe muito do poder de nos inquietar pelo que revelam, apesar de tudo, duma vaidade demasiado humana.
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