quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

A CIDADE DOS ABAIXO ASSINADOS


Estação Ostiense (Roma)
Um pouco mais de esforço, e lá chegaremos!


De tempos a tempos, a comunicação social dá-se conta que a cidade está doente, com uma doença de pele confrangedora.

No "Público" de hoje, pergunta-se: "A arte clandestina pinta ou suja as paredes?"

Ora, a pergunta só faz sentido num contexto em que se perderam todos os critérios de "validação" da obra de arte e completamente se pôs de lado a questão ética, a do direito dos outros e das regras de convivência. Por outro lado, não há nada de clandestino numa actividade tolerada e que é abastecida por um comércio especializado.

Avaliar um "tag" é sempre subjectivo, diz um entendido. Subjectivo, pois claro, como a perda da realidade e a esquizofrenia que não dão, ao que se sabe, especiais créditos artísticos.

Mas os "writers", diz Terrance Lindall no mesmo artigo, seriam "pessoas oprimidas ou suprimidas" que "precisam duma saída, por isso escrevem nas paredes - é grátis."

É evidente que a "expressão" se tornou obrigatória na sociedade da "dessublimação repressiva". Nem todos podem "assinar", com a sua presença, um "reality show" ou um concurso televisivo. Por isso, a televisão está já nas paredes da cidade.

Revolucionários os "tags" e os "graffiti"? Mas são os mais conformistas possível, seguindo apenas as linhas de indução da "cultura global". É sintomático que esta "manifestação popular" não provenha de nenhum recalcado doméstico, mas da chamada cultura "punk" ou "hip-hop" de Nova Iorque de há mais de vinte anos.

Mas nesta cidade já se estabeleceram algumas fronteiras entre a "arte e o lixo", enquanto que no Bairro Alto e no centro histórico de muitas cidades se debate ainda, metafisicamente, se não estaremos perante a "arte rupestre" do século XXI.

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