quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

A FALTA DE RITMO



"(...) eu sentia aí sobretudo a certeza ou a ilusão que tinham tido esses grandes senhores de serem "mais do que os outros", motivo por que não haviam podido legar a Saint-Loup esse desejo de mostrar que se é "tanto como os outros", esse medo de parecer demasiado pressuroso, que lhe era de facto verdadeiramente desconhecido e que com tanta rigidez e falta de jeito desfeava a mais sincera amabilidade plebeia."

"À l'ombre des jeunes filles en fleurs" (Marcel Proust)


Por outras palavras, a verdadeira educação, ao fazer das considerações de protocolo uma segunda natureza, favorece uma espécie de graça em que o carácter conspícuo e voluntário da consciência está ausente.

É o que diz uma canção conhecida: "guilty feelings have no rythm".

Saint-Loup, não deixando por um momento de ser aristocrata e de ter as maneiras da sua casta, era uma criatura inconsequente quanto às ideias que professava (como os Aiguillon e os Noailles em 1789), mas essa contradição não alcançava a sua consciência.

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