segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

A EFÉMERA MEMÓRIA DA FALTA DE SENTIDO


"Talvez fosse necessário, de uma vez por todas, que se compreendesse que o que tem de ser erradicado são as razões deste sofrimento em que se encontram milhares de crianças, um sofrimento da inteligência, que só aparece nas análises macroscópicas através das consequências que engendra, a angústia da má nota, a desvalorização devida à etiquetagem de "aluno em dificuldade", agravando-se cada ano que passa, para conhecer uma inevitável explosão no colégio. Acompanhada, bem entendido, pela amplificação que não podem deixar de lhe conferir os meios ditos desfavorecidos."

"Si 7=O, Quelles mathématiques pour l'école?" - Stella Baruk)


A autora, professora de matemáticas e investigadora em pedagogia verbera o que julga uma "abdicação do sentido", tradicionalmente ligada ao ensino daquela disciplina, em favor dum simples saber-fazer, do recurso a regras não compreendidas, dum fetichismo dos resultados.

"É espantoso constatar que o modo de ensinar a numeração hoje não é em nada diferente, exceptuados alguns lamentáveis modernismos, daquele dos princípios da escola. Não se propunha, dantes, aos alunos que decompusessem 1 em 0+1, ou 1+0, e até 0 em 0+0." (ibidem)

O uso e abuso da calculadora apenas veio encobrir esse défice de compreensão, desde as operações básicas. "Foi o hábito decorrente da prática que a calculadora fez desaparecer. (...) Não é de admirar, pois, que um procedimento apenas memorizado como regra só fique na memória durante o tempo em que ela for utilizada." (ibidem)

E este "inumerismo" (por analogia com iletrismo), como lhe chama Baruk, é tanto mais dramático quanto vivemos, cada vez mais, rodeados de sinais que é preciso compreender.

Ora, querer compreender é a vocação das jovens inteligências. E o fracasso da escola devia levar os adultos a interrogarem-se "por que é que inteligências bem apetrechadas podem produzir respostas sem sentido." (ibidem)

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