terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

AQUECER NÃO É PRECISO


Le Grand Hôtel de Cabourg (Balbec)

"De maneira que nós já não podíamos ter água quente porque Françoise se tinha tornado amiga daquele que a fazia aquecer."

"À l'ombre des jeunes filles en fleurs" (Marcel Proust)


No Grande Hotel de Balbec, a ex-criada da tia Leónia, uma camponesa com os traços da Velha França, como as figuras no pórtico da igreja românica a alguns quilómetros da praia, tinha feito amizades independentemente dos seus patrões.

E se antes de conhecer o homem que aquecia a água, era a primeira a barafustar contra o incómodo e a falta de competência, agora era o que se via.

Moral da história: se a água quente significa aqui a economia e as novas relações entre a criada e o encarregado do aquecimento são já do domínio político, temos nesta anedota o exemplo de que não há economia pura e de que o poder nem sempre está onde se julgava que estaria.

2 comentários:

firmina12 disse...

talvez também se possa tirar outra moral da história: afinal o amor não aquece assim tanto tudo o que está à volta

bettips disse...

Gostei muito do postal y rélatif!
Um apontamento que nos transporta para outro tempo. Neste tempo, os meandros do poder são muito mais complexos. Abç