sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

TETRO


"Tetro" (2009-Francis Ford Coppola)


A sequência de "Red Shoes" em "Tetro" dá-nos a chave da personagem e inspira toda a poesia visual do filme de Coppola.

Um autor falhado (Vincent Gallo) refugia-se numa Buenos Aires marginal para se furtar ao seu destino. Como Saulo que, depois de cair do cavalo mudou de nome, Tetro é um monstro linguístico que transforma o patronímico italiano num nome que quer dizer "sombrio", para significar o corte com a família e a ferida sempre aberta. Este fatalismo é perturbado pela visita do irmão mais novo, Bennie (Alden Ehrenreich), que se instala em sua casa, enquanto o paquete onde trabalha sofre reparações. Um acidente leva Bennie ao hospital prolongando a provação de Tetro que deseja o fim de todos os contactos.

Através do manuscrito escondido pelo irmão, Bennie descobre que a história da sua família ganha as proporções da tragédia que atingiu a Casa dos Átridas. Um pai que tudo sacrifica ao culto narcísico do grande artista, a mãe que é conduzida para a morte, com Tetro ao volante e a revelação final de que Bennie é filho de Tetro (o pai deste tinha-lhe roubado a namorada) como ponto alto da coda dramática.

O talento de Tetro (reconhecido numa cerimónia que ele despreza) esmagado pela vaidade ("Há só lugar para um génio nesta família") e pela usurpação paterna, como o da bailarina do filme de Michael Powell e Emeric Pressburger é, de facto, uma maldição pois representa o parricídio simbólico fracassado.

Há um enredo nesta família deformado pela figura do pai, figura que só Bennie consegue "destituir" no funeral daquele que é, na realidade, o seu avô. Ele é o anjo que anuncia o novo começo.

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