sábado, 5 de dezembro de 2009

A POLÍTICA EPIDÉRMICA


Julián Marías (1914/2005)


"Como se se pudesse atribuir a um regime, para o bem e para o mal, a substância profunda do que num país acontece; como se não fosse a política um fenómeno relativamente superficial e epidérmico, cuja acção, por perturbadora que seja, é transitória e deixa além disso intactos os estratos mais profundos duma sociedade."

(Julián Marías, citado por Agustina Bessa-Luís)


Talvez a substância profunda do que é uma nação seja uma espécie de microfísica a que nenhum instrumento conhecido dá acesso. Alguém que pudesse representar-se e sentir "por dentro" o grande ser de que é feita uma colectividade, abrangendo as gerações sucessivas e os vivos e os mortos, não estaria mais habilitado a agir como indivíduo no único plano que se oferece à acção e que é, precisamente, o da política.

A política é superficial, mas da mesma maneira que a linguagem o é. Não poderíamos compreender-nos a nós próprios sem ela e, no entanto, é verdade que tudo isso representa uma ténue ondulação no grande ser.

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