Fernand Léger ("Players")
"Contrariamente à tirania que se caracteriza pela ausência de leis, o totalitarismo não equivale à anarquia mas obedece a uma lei: a da Natureza no caso do nazismo, a da História no caso do bolchevismo. Todavia, a função e a definição das leis mudaram: as leis não são mais factores de estabilização, as "muralhas" que Platão invocava, mas tornam-se ao contrário leis de movimento, um acelerador das forças históricas e naturais: 'o terror executa imediatamente as sentenças de morte que a Natureza é suposta ter pronunciado contra as raças ou indivíduos "inaptos para viver", ou a História contra as "classes moribundas", sem esperar que a natureza ou a história, elas mesmas, sigam o seu curso, mais lento e menos eficaz.(*)'"
("La logique d'une idée: la fabrication du genre humain" de Sylvie Courtine-Denamy;
(*) "Les Origines du Totalitarisme" de Hannah Arendt)
Não foi antes da natureza e da história terem sido sistematizadas e as suas leis "reveladas" pela ciência ou pelo que passava por isso (o evolucionismo ou o materialismo histórico) que se lançaram os prometeicos empreendimentos sociais do século XX.
Assim que o conhecimento é passível de se converter em poder, parece existir uma lei que catalisa esse processo, com a constância com que uma corrente de água segue o declive no terreno. Não pode ter sido outra a explicação para a utilização da bomba atómica na última grande guerra, por muitas noites de sono que a decisão possa ter custado a Truman e ao seu Gabinete. Aplica-se aqui a famosa ideia hegeliana da astúcia da História, que é uma variação de outra que reza que "Deus escreve direito por linhas tortas".
Decerto não se acelerou coisa nenhuma, porque a "máquina" (ou o sistema) não é o modelo para a compreensão quer da natureza quer da história, mas o estado do mundo não deixou de se alterar radicalmente (embora num sentido imprevisível), apesar do erro de princípio.
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