Proust no seu leito de morte
"O egoísmo, tão natural nos artistas e que representa a economia das suas potências perante um mundo cuja realidade está sobretudo na criação que dele faz, transparece em Cela quase como mais uma graça e uma burla sua. No entanto, é autêntico, ninguém estranha. O egoísmo é o humanismo dos próprios anjos."
"Embaixada a Calígula" (Agustina Bessa-Luís)
Este esboço sobre Camilo Cela foi feito durante um encontro de escritores na Provença, em 1959. São interessantíssimas as notas de Agustina sobre os diversos participantes.
Aqui, fala-se do que pode parecer egoísmo, e até insensibilidade, nos criadores, mas é sobretudo atenção apaixonada pelo que fazem nascer, com prejuízo do resto, inclusive da própria saúde. Proust não teria morrido aos 51 anos se tivesse consentido em tratar-se. Mas ele temia que as drogas obnubilassem o seu espírito e o impedissem de se dedicar à coda da sua grande obra. A rudeza de Miguel Ângelo é proverbial, pois a ideia tortura o artista sem escolher o momento e ganhava audiência no seu espírito por uma espécie de parti pris contra o mundo.
Hé, evidentemente, artistas cortesãos que sabem manter as conveniências que não podem dar-se ao luxo de ignorar. É por isso que a loucura, às vezes, guarda a criação, e seja difícil nalguns casos distinguir entre a vontade e a maldição.
E talvez aqueles que nos enganam apresentando-nos a loucura como um jogo sejam os mais felizes.
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