(1873/1960)
"Criámos entre nós o verbo proustificar para exprimir uma atitude de genialidade demasiado consciente, juntamente com o que vulgarmente seria apelidado de afectações intermináveis e deliciosas."
(Fernand Gregh, citado por Alain de Botton)
A delicadeza mundana de Proust é proverbial. Por nada deste mundo daria o desgosto de ser objectivo na apreciação dum poema feito por um amigo. Também, com as mulheres, a cortesia nunca descia dos superlativos, o quer que estivesse a ser avaliado, desde uma toilette ao espírito da conversação.
Era amável, mas dum maneirismo tão precioso que só podia significar o que Pascal dizia dos chapéus. Um cumprimento não é um juízo.
Por outro lado, basta abrir o romance em qualquer página e travar com o dedo o texto serpentino para encontrar a verdade do pensamento de Proust. Só um fabulista como La Fontaine, por exemplo, podia ter ido mais longe na caracterização das misérias e dos vícios do "beau monde".
Alain diz que Proust via os homens como se fossem peixes num aquário. Isto não deve ser entendido como uma crítica, pelo contrário. Tirando a deformação provocada pelo vidro, a evolução das personagens é seguida com o espanto e a liberdade poética dum observador duma outra espécie.
Proustifiquemos, pois, se queremos ser bons observadores.
0 comentários:
Enviar um comentário