terça-feira, 8 de dezembro de 2009

CONSUMO E CULTURA


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"A dificuldade relativamente nova com a sociedade de massa é talvez ainda mais séria, não em razão das massas elas mesmas, mas porque esta sociedade é essencialmente uma sociedade de consumidores, em que o tempo de lazer não serve já para as pessoas se aperfeiçoarem ou adquirirem uma melhor posição social, mas para consumirem mais e mais e para se divertirem cada vez mais. E como não há bens de consumo à volta para satisfazer os apetites crescentes dum processo vital cuja energia viva, que não se despende já no labor e no esforço dum corpo em trabalho, deve usar-se no consumo, tudo se passa como se a própria vida saísse dos seus limites para se servir de coisas que nunca foram feitas para isso."

"La crise de la culture" (Hannah Arendt)


Arendt nega, pois, a possibilidade de uma cultura do consumismo, identificando no modo como se vive o lazer o critério do que é cultura.

Só que, assim, teríamos de negar a cultura a todos os povos que viveram na completa necessidade, mas sem que, por exemplo, o acto de comer e os que asseguram a procriação deixassem de ter as suas formas próprias. Teríamos que reservar a ideia duma cultura popular apenas para a civilização burguesa.

Outra coisa é dizer que a rápida usura dos bens de consumo nos despega da natureza e de qualquer tradição. Nesse sentido, tornámo-nos uma espécie de nómadas. A nossa natureza é tão abstracta como o deserto, e tanto podemos tornar-nos supersticiosos (o que já acontece em relação a uma ciência cada vez mais distante da nossa percepção) como contrair uma religião do deserto.

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