terça-feira, 1 de dezembro de 2009

PUZZLES



"Uma das coisas que nesses dias (1946) eu tinha dificuldade em compreender era a tendência dos filósofos ingleses de flirtar com epistemologias não realistas: fenomenalismo, positivismo, idealismo Berkeleyano, Humeano ou Machiano ('monismo neutral'), sensacionalismo, pragmatismo – estes brinquedos de filósofos eram nesses dias ainda mais populares do que o realismo. Depois de uma cruel guerra que durara seis anos, essa atitude era surpreendente (…)"

"The unended quest" (Karl Popper)


Popper conta o episódio, durante uma conferência em Cambridge, quando conseguiu enfurecer Wittgenstein que o interpelava brandindo um atiçador (estava junto da lareira), em jeito de ponteiro magistral, levando-o a abandonar a sala batendo com a porta. Wittgenstein tinha-o desafiado a apresentar um exemplo de regra moral, ao que Popper respondeu: "não ameaçar os conferencistas convidados com atiçadores". Estava em questão a negação por parte de Wittgenstein da existência de problemas filosóficos (só existiriam puzzles linguísticos) e a crença do autor da "Sociedade Aberta" de que existem verdadeiros problemas filosóficos e que "o facto de muitas pessoas, senão todas as pessoas, impensadamente adoptarem insustentáveis soluções para muitos, ou talvez todos os problemas filosóficos proporcionava a única justificação para ser filósofo."

A fúria de Wittgenstein resultou, evidentemente, de ver a sua vaidade intelectual desfeiteada por uma réplica oportuna e não por ter de reconhecer a razão de um argumento contrário à sua tese.

A filosofia da linguagem teve o seu tempo e faz parte de outro puzzle que é a relativa falta de popularidade do realismo, pelo menos, segundo Popper, junto dos filósofos ingleses, logo a seguir à segunda grande guerra.

Mas a surpresa de Popper é que é de admirar, porque o realismo nunca se deu com as grandes crises do espírito.

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