domingo, 20 de julho de 2008

PENSAR SEM REDE



"Despreza os teus pensamentos, que acabam por passar - e tornar a passar - sozinhos..."

"O Senhor Teste" (Paul Valéry)


Isto é cartesianismo puro e duro e releva da coragem de pensar e duma esperança que só a fé na religião do Homem pode sustentar.

O que se rejeita é o automatismo, sobretudo o do piloto e ao mais alto nível. Não se trata dos músculos, nem do sistema neurovegetativo. Podemos realmente assistir distraídos ao cinema mental.

Mas Descartes quer que sejamos responsáveis por todas as acrobacias e que a rede não esteja por baixo. Isso é que é decisivo, essa é que é a verdadeira separação das águas.

Uma fórmula no PDA não é pensada, a mesma fórmula na nossa memória tampouco o é. O grande desafio é recusar resumos e atalhos, as máquinas que facilitam a tarefa, mas que nos transformam a nós próprios em servomecanismos.

A compreensão do fenómeno mais simples, da lei da mecânica mais comum, daquilo que fazemos, afinal, sem consciência, vale mais do que as "descobertas" no fim da linha, que saem das nossas fórmulas sem as podermos ver como um todo.

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