terça-feira, 1 de julho de 2008

O SONO ETERNO


Georges Jacques Danton (1759/1794)


"Os que conhecem os retratos de Danton, especialmente os esboços que David surpreendeu nas noites da Convenção, não ignoram como o homem pode descer do leão ao touro, ou melhor, cair no javali, tipo sombrio, baixo e desolador de sensualidade selvagem.

Eis uma nova força que vai reinar todo-poderosa na época sanguinária que devemos narrar; força mole, força terrível, que dissolve, que destrói o nervo da Revolução. Sob a aparente austeridade dos costumes republicanos, entre o terror e as tragédias do cadafalso, a mulher e o amor físico são os reis de 93."

"História da Revolução Francesa" (Jules Michelet)


No perigo mais extremo, depois de abatida a Gironda e ninguém já se sentir seguro, quando mesmo o frenético Marat se vê forçado a constituir-se "guardião da sociedade", Danton decide casar, quatro meses depois de enterrar a mulher da sua vida, com uma menina aristocrata de 16 anos, cuja família o obriga à humilhação de se ajoelhar diante de um padre refractário. Espantoso volte-face que expunha todo o seu passado à censura do fanatismo que via nisso o sinal da duplicidade e da traição.

Michelet descreve a imagem da época: "Ali se vêem os condenados na carroça, descuidados e com uma rosa na boca.", para concluir que, de facto, o Amor é o irmão da Morte.

Mais do que à volúpia, aquilo a que aspiram estes homens extenuados pelos perigos da acção revolucionária é ao sono eterno. Mas Lenine, estendido no soalho do Smolny, entre as reuniões e os decretos, julga medir as suas forças com o fardo esmagador de começar tudo de novo.

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