Galeno exercendo como médico de gladiadores
"(...) um médico como Galeno considera que é da sua competência não apenas curar os grandes desvios do espírito (a loucura amorosa era tradicionalmente do domínio da medicina), mas cuidar das paixões ("energia desregrada, rebelde à razão") e os erros ( que "nascem de uma opinião falsa"); de resto, "globalmente e num sentido geral", uns e outros "chamam-se erros"".
"O Cuidado de Si" (Michel Foucault)
Quase um milénio e meio depois, Descartes escreve o seu "Tratado das Paixões", que dedica à princesa Elisabeth da Boémia, e em que cada um pode ser o médico de si próprio.
Hoje, fomos mais longe ainda. Listaram-se os "desvios", que já não são erros, nem podem ser tratados pela filosofia e as paixões foram completamente psiquiatrizadas.
Não há tristeza que não se possa classificar de depressão, nem volubilidade que não tenha direito a um chavão freudiano e a uma pré-história familiar.
Depois da tipificação dos desvios e dos questionários em que cada um procura enquadrar os seus problemas, não há quem não se sinta anormal, mas apaziguado por saber o que tem e por ter os medicamentos à mão.
1 comentários:
Apenas para dizer que acho o seu blogg interessante. Pena que haja tantos posts sem comentários...
Quanto à cura pela filosofia, é curioso saber que existe um seu ramo que se dedica à cura de certos "males", assemelhando-se à psicologia. Trata-se de um género de catarse pela filosofia...
Também julgo que hoje em dia se recorre a medicamentos, desnecessariamente, para curar os "males do espírito", quando, muitas vezes, o diálogo seria o melhor remédio...
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