domingo, 13 de julho de 2008

A HISTÓRIA NA BARRIGA



"Todos "bons burgueses" típicos, pouco dotados, mas hábeis e bastante triviais, tanto como os seus leitores de resto. O outro grupo é constituído apenas por algumas dezenas de nomes e compreende os maiores criadores do realismo crítico e do romantismo revolucionário. São todos dissidentes, "filhos pródigos" da sua classe; nobres arruinados pela burguesia escapados à atmosfera sufocante do seu meio. Os livros deste grupo de autores europeus são-nos indiscutivelmente preciosos a duplo título: primeiro, enquanto obras tecnicamente modelares; em seguida, enquanto documentos explicando o processo do desenvolvimento e da decomposição burgueses, documentos estabelecidos pelos dissidentes desta classe que esclarecem como críticos os seus costumes, tradições e comportamentos."

"Le Métier des Lettres" (Maximo Gorki)


Interpretações como esta terão tido algum papel progressista (nos termos da própria doutrina) no desenvolvimento das Letras?

Gorki põe-se na posição de, com toda a boa consciência, indicar aos autores, grandes e pequenos, o caminho do Céu ou do Inferno. Mas quem não vê que esta selecção que põe os autores burgueses fora da literatura é uma cláusula do critério mais geral que põe certos grupos e certos indivíduos fora da humanidade?

Se a classe está condenada, não há razão para esperar dos seus criadores mais do que apologia e serviço de divertimento.

Quanto aos dissidentes da burguesia (mas em nome de quê?) podem ter um interesse documental ou simplesmente técnico, mas são do mesmo modo irradiados da literatura do futuro.

Ora, este método praticamente corta com a literatura do passado, mesmo a mais eminente, e comete à chamada literatura revolucionária a tarefa de forjar uma tradição anti-burguesa.

Mas isso foi de imediato sufocado no ovo pela censura dos novos poderes. De modo que, se há um método original em obras como "A Mãe" do mesmo Gorki, terá deixado imitadores, mas não deixou descendência, por falta de condições para a criação literária.

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