segunda-feira, 28 de julho de 2008

A ARTE DE COMER UM PÊSSEGO




"Do mesmo modo que, em La Rochefoucauld, a educação apenas serve para ensinar a um homem como deve comer um pêssego com maneiras, assim também todo o aparato de ideias romântico, e ao fim ao cabo também político, que Barrès mobiliza para "propagar o culto da terra e dos mortos" não serve para mais nada a não ser para "transformar sensações caóticas em sensações mais cultivadas. Nunca estas sensações cultivadas escondem a sua origem no esteticismo que é apenas o reverso do niilismo."

"Estética e Sociologia da Arte" (Walter Benjamin)


Terá Benjamin compreendido melhor Barrès do que compreendeu La Rochefoucauld?

Podíamos dizer também que "quanto mais entramos nas ideias deste homem, tanto mais estreita parece a sua afinidade com as doutrinas que o presente produz, um pouco por toda a parte."

Felizmente que não há nem pode haver juízos definitivos, nem acima da crítica.

Proust troçava de Sainte-Beuve por este encontrar na vida do artista a explicação da obra. O freudismo não deu razão à crítica dum autor que entendeu melhor os sonhos do que a psicanálise.

A referência ao autor das "Máximas" é, evidentemente, uma blague. As maneiras do século XVIII ainda não tiveram quem as estudasse sistematicamente. Quem, em vez de se render como Proust ao estilo dum Saint-Simon, as procurasse entender como uma linguagem funcional ao mesmo tempo que estase do poder.

A ideia crítica estava tão ausente dessas maneiras, que a Revolução, por contraste, a endeusou. Um último restolhar desse espírito de negação parece estar presente ainda na "autoridade" com que Benjamin fala do niilismo de Barrès.

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