"Só a transformação das máquinas pode impedir o tempo dos operários de se assemelhar ao dos relógios; mas isso não basta; é preciso que o futuro se abra diante do operário por uma certa possibilidade de previsão, a fim de que ele tenha o sentimento de avançar no tempo, de em cada esforço se encaminhar para um certo acabamento. Actualmente, o esforço que exerce não leva a parte nenhuma, a não ser à hora da saída, mas como a um dia de trabalho sucede sempre um outro, o acabamento não é outra coisa que a morte;"
"La Condition Ouvrière" (Simone Weil)
A influência de Marx nesta análise da alienação do trabalho em cadeia é evidente. Assim como na solução de "um certo conhecimento do funcionamento do conjunto da fábrica", do lugar que aí ocupa aquilo que se faz e do papel da própria fábrica na vida social.
Mais original é a importância que concede ao ritmo "natural" contra o tempo uniforme dos relógios. Ritmo que permite "atravessar o tempo, com esforço, minuto após minuto."
Perguntamo-nos, em relação àquele conceito de alienação, se o sentido daquilo que se faz pode ser apanágio do trabalho moderno, não só nas fábricas, mas igualmente nos serviços e se a complexidade, inimaginável no tempo de Marx, a que chegou a técnica nos vários domínios é compatível com essa ética do conhecimento e da valoração daquilo que se faz.
É preciso, talvez, ver nessa ambição do trabalho "consciente" o correlato duma ideia do sujeito colectivo que impõe o seu domínio à Natureza e que é o autor da sua própria história.
Foi porventura essa ingénua noção que permitiu conceber o domínio da sociedade e toda a gesta da "transformação do mundo".
A 11ª tese sobre Feuerbach é esse momento de exaltação heróica, antes do crepúsculo.
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