domingo, 27 de julho de 2008

AS DUAS CASAS


Tibério Cláudio Nero César (42aC37dC)


"(...) e eu entrava no sono, que é como um segundo apartamento que tivéssemos e onde, abandonando o nosso, iríamos dormir.

(...) a raça que aí habita, como a dos primeiros humanos, é andrógina. Um homem aparece aí, passados uns instantes, sob o aspecto duma mulher. As coisas têm aí a aptidão de se tornarem homens, os homens amigos e inimigos."

"Sodome et Gomorrhe" (Marcel Proust)


Ninguém descreveu o sono melhor do que Proust e sabemos que é por essa porta que se entra na sua grande obra.

A mudança de casa no sono não é uma simples mudança de mundo ou de lugar.

O provérbio chinês citado num dos filmes de Rohmer, que diz enlouquecer o homem que vive em duas casas, por que é que os sonhos devem dispersar com a luz do dia e recolher ao mundo de Nosferatu.

Estar nas duas casas ao mesmo tempo é a história de Tibério e do seu astrólogo.

Já as metamorfoses sexuais dos habitantes do segundo apartamento se parecem muito com os desejos que perderam o último metro.

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