sexta-feira, 11 de julho de 2008

A LATRINIZAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO




Se não podes vencê-los, junta-te a eles. É a moral que se pode aplicar à Câmara de Lisboa no seu plano de recuperação de fachadas no Bairro Alto.

Segundo a notícia no "Público" de hoje, a Câmara irá pintar apenas a parte de cima dos prédios, por falta de verbas.

Tudo isso é normal, menos as negociações com os principais responsáveis pela degradação daquela zona histórica da cidade, como de tantos outros lugares por todo o país: os "graffiteiros", também conhecidos por "writers", quando se dedicam a uma espécie de balbúcie caligráfica com que marcam o espaço público.

Pois bem, os "writers", de acordo com o jornal, mostraram-se "desagradados com o estado actual do bairro, principalmente ao nível da limpeza" e ameaçaram mesmo borrar os segundos e terceiros andares (já há pelos vistos equipamento para isso).

A doutrina que vigora nalguns destes grupos é a de que é preciso tornar o feio mais feio ainda, até acabar com ele... Infelizmente, a dissidência, maldosamente, nem dá tempo para se inaugurarem as paredes de novo pintadas nem os monumentos restaurados.

Como esta notícia não surge numa rubrica de humor negro, a qual, de resto, nem existe no "Público", devemos ver aqui mais um exemplo dos nossos "brandos costumes".

O que espanta é o conformismo geral. Parece que as pessoas estão reféns da sua incompreensão da arte moderna, aliada a uma acrítica reverência por tudo o que leva o carimbo de cultura nos media e na opinião pública.

Alguns artistas, involuntariamente, terão contribuído para esta desorientação. Não se sabe no fundo se aquilo é arte ou se é só o que parece. Alguns não verão mesmo nenhuma diferença entre um "tag" e um esboço de Picasso. Por isso são incapazes de pôr o nome aos bois.

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