"Viaggio in Italia" (1953-Roberto Rossellini) |
A que comparar a última cena de "Viaggio in
Italia", em que a procissão (como na canção de Piaf, "La foule")
separa os amantes desavindos para os voltar a reunir mais adiante, mas
transformados por essa acção, pois que a descrença deu lugar à imitação da fé?
Todos conhecemos a força do entusiasmo colectivo, quer
ele esteja associado ao estádio desportivo, quer às grandes manifestações ou aos congressos partidários. Mas esse
entusiasmo vem do espectáculo da própria força.
Não é disso que se trata na cerimónia religiosa do filme
de Rossellini. O que se parece ver é antes tristeza e fatalismo. Acima de
tudo é de obediência que se trata, de
pôr em surdina as fantasias do indivíduo para encontrar a paz no ser maior.
Alex e Katherine sofrem a crise do fim do desejo e, à sua
maneira, ele mais cínico e ela na procura inquieta e na esperança, cada um faz o balanço do que a união lhes
traz.
Mas o amor não se sustenta de realismo e de sentido
prático. Isso é para o comércio. É por isso que aquela procissão é uma poderosa
"massagem". O movimento que lhes impõe é uma imersão forçada no
ritual (onde o espírito que interroga faz voto de silêncio).
E é já o princípio da fé, a qual, contrariamente às
ideias feitas é uma só, qualquer que seja o seu objecto.
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