sexta-feira, 20 de abril de 2012

UMA CERTA ITÁLIA

"Viaggio in Italia" (1953-Roberto Rossellini)


A que comparar a última cena de "Viaggio in Italia", em que a procissão (como na canção de Piaf, "La foule") separa os amantes desavindos para os voltar a reunir mais adiante, mas transformados por essa acção, pois que a descrença deu lugar à imitação da fé?

Todos conhecemos a força do entusiasmo colectivo, quer ele esteja associado ao estádio desportivo, quer às grandes manifestações  ou aos congressos partidários. Mas esse entusiasmo vem do espectáculo da própria força.

Não é disso que se trata na cerimónia religiosa do filme de Rossellini. O que se parece ver é antes tristeza e fatalismo. Acima de tudo  é de obediência que se trata, de pôr em surdina as fantasias do indivíduo para encontrar a paz no ser maior.

Alex e Katherine sofrem a crise do fim do desejo e, à sua maneira, ele mais cínico e ela na procura inquieta e na esperança,  cada um faz o balanço do que a união lhes traz.

Mas o amor não se sustenta de realismo e de sentido prático. Isso é para o comércio. É por isso que aquela procissão é uma poderosa "massagem". O movimento que lhes impõe é uma imersão forçada no ritual (onde o espírito que interroga faz voto de silêncio).

E é já o princípio da fé, a qual, contrariamente às ideias feitas é uma só, qualquer que seja o seu objecto.

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