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"Sobrestimam-se fortemente as pequenas diferenças.
Quanto mais se caminha na direcção do microscópico, mais elas ficam
simbolicamente carregadas. É muito perturbante. Provavelmente porque o que
diminui com a minoria das minorias é a amplitude securizante da pertença.
Então, o grupo de pertença retraindo-se, aproximamo-nos do ponto limite em que
as pessoas são insubstituíveis, e por isso
a pequena diferença torna-se diferença quase absoluta: 'Eu sou eu, não
sou você.' Toca-se de alguma maneira o insubstituível. O que não pode ser trocado por nada."
"L’étrangeté de l’étranger " ( Paul Ricard,
diálogo com Jean Daniel)
Será uma tal absolutização das diferenças na
"minoria das minorias" comparável ao aprofundamento do
individualismo, nas situações em que, mesmo em grupos muito maiores, o
sentimento de pertença esmoreceu?
Em Portugal, a politização do passado, com a
identificação dos grandes símbolos unificadores com a direita (muito devida ao
aproveitamento que a ditadura deles fez), levou à anemia do sentimento de
pertença (que, por outro lado, favorece o português andarilho das sete
partidas e, como consequência, a redescoberta da pertença) que exacerba a tão
idiossincrática auto-desestima.
Mas parece também certo que, num grande país como os EUA,
com grandes níveis de patriotismo espontâneo e uma exuberante auto-estima,
florescem as minorias excluídas (ou que se auto-excluem) da pertença
simbólica. Talvez porque a maioria, ela própria, transmita às suas minorias um
sentimento de insegurança. O grau de absolutização das diferenças não será,
pois, típico da minoria das minorias. Uma grande maioria pode formar também
os seus "estrangeiros", aqueles que ela não sabe "como vivem em
suas casas".
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