segunda-feira, 2 de abril de 2012

O MAL É LEGIÃO

Max Horkheimer (1895/1973)


"A proibiçâo judaica de se representar Deus e a proibição Kantiana de ir para além do mundo inteligível contêm ambas o reconhecimento do absoluto cuja determinação é impossível. O mesmo é verdade para a teoria crítica, tanto quanto declara que o mal - primeiro na esfera social, mas também na do ser humano individual - pode ser descrito, não o bem, todavia."


"On Critical Theory" (Max Horkheimer)




Há muitas maneiras de partir, mas uma só de estar inteiro. O "diabólico", ou oblíquo,  é  a diagonal dos nossos pensamentos. E  não nos esqueçamos que, em geometria, a diagonal do quadrado é um irracional (ou a raiz de 2). Só pode ser pensada no triângulo, com o terceiro termo dos incomensuráveis (o lado e a diagonal). Serres explica ("A origem da geometria") como a triangulação no "Teeteto" de Platão se tornou a rede do nosso mundo racional.

Da mesma maneira, pensamos o mal como oposição ao bem (incomensuráveis que igualmente são), embora, logicamente,  o mal seja, ao mesmo tempo, "igual" ao bem, graças a um terceiro implícito. É a solução, de resto, do problema teológico que é o do bem não poder resultar o mal.

Perante Deus, o mal deixa se ser absoluto e passa a competir com o bem, também ele "relativizado", no que é, passe a expressão, a acção divina.

Podemos descrever o mal, a "legião dos demónios" que nos desvia dos nossos deveres (no sentido lato), enquanto temos consciência do seu "incomensurável", como tal.

Os paradoxos resolvidos pela "triângulação" divina não são úteis para o crente. E a visão profana só nos permite uma estéril dissecação do religioso.

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