domingo, 29 de abril de 2012

AGARRAR UM PESO

skyscanner.net

"O homem científico está limitado nos seus sentimentos, o homem prático ainda mais. É tão evidente como ter as pernas bem plantadas quando se quer agarrar um objecto com os braços."

"O Homem Sem Qualidades"
(Robert Musil)




O ideal da ciência é a objectividade, e só isso explica por que os sentimentos devem ficar de fora. A mente que analisa gostaria de não ser afectada pelas "razões" do coração para poder partilhar alguma certeza sobre o mundo. Embora a imaginação e a intuição tenham um grande papel na criatividade, tornam-se pouco recomendáveis quando é preciso ser "objectivo" (e mesmo "inter-subjectivo").

Somos sujeitos a vários regimes, como se, em nós, se sucedessem, aleatoriamente, outras tantas formas de governo. O modelo destas elucubrações é, evidentemente, "A República" de Platão, em que muitos vêem, como Simone Weil, um tratado da alma, mais do que um tratado político ( se assim fosse, a crítica de Popper, por exemplo, teria errado o seu alvo). E não há nenhuma forma de governo em que não haja divisão e especialização.

O sentimento é o contrário disso e é mais justo em relação ao nosso próprio corpo e às nossas necessidades vitais.

O homem prático falha nos dois mundos. Para ser eficiente limita-se na forma como sente e nos seus pensamentos. A sua visão é curta e o seu mundo reduzido, com o que pode alcançar uma fácil beatitude.

A ideia de ganhar base de sustentação para receber um peso nos braços é feliz. A ciência reclama uma concentração de forças (e um correspondente abandono de outras vivências), tal como o prático que, por não querer "perder tempo", se reduz a uma única dimensão.

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