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"O homem científico está limitado nos seus
sentimentos, o homem prático ainda mais. É tão evidente como ter as pernas bem
plantadas quando se quer agarrar um objecto com os braços."
"O Homem Sem Qualidades"
(Robert Musil)
O ideal da ciência é a objectividade, e só isso explica
por que os sentimentos devem ficar de fora. A mente que analisa gostaria de não
ser afectada pelas "razões" do coração para poder partilhar alguma
certeza sobre o mundo. Embora a imaginação e a intuição tenham um grande papel
na criatividade, tornam-se pouco recomendáveis quando é preciso ser
"objectivo" (e mesmo "inter-subjectivo").
Somos sujeitos a vários regimes, como se, em nós, se
sucedessem, aleatoriamente, outras tantas formas de governo. O modelo destas
elucubrações é, evidentemente, "A República" de Platão, em que muitos
vêem, como Simone Weil, um tratado da alma, mais do que um tratado político (
se assim fosse, a crítica de Popper, por exemplo, teria errado o seu alvo). E
não há nenhuma forma de governo em que não haja divisão e especialização.
O sentimento é o contrário disso e é mais justo em
relação ao nosso próprio corpo e às nossas necessidades vitais.
O homem prático falha nos dois mundos. Para ser eficiente
limita-se na forma como sente e nos seus pensamentos. A sua visão é curta e o
seu mundo reduzido, com o que pode alcançar uma fácil beatitude.
A ideia de ganhar base de sustentação para receber um peso
nos braços é feliz. A ciência reclama uma concentração de forças (e um
correspondente abandono de outras vivências), tal como o prático que, por não
querer "perder tempo", se reduz a uma única dimensão.
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