Salazar (Eduardo Gageiro) |
Na fotografia de
Eduardo Gageiro, de 1962, vemos do alto Salazar no Forte de Santo António do
Estoril, olhando o mar. Não sabe, aparentemente, que está a ser fotografado.
Como qualquer de nós, repousa o olhar na imensidão das águas, mas a nossa voz
interior, preconceituosa, diz-nos que, naquela pose, com os braços apoiados na “amurada”,
ele se sentia à proa do seu “quinto império”, ou como o último figurante no Padrão dos Descobrimentos…
Nunca saberemos se o
ditador, com o aproximar do último acto da sua vida, acalentava ainda
pensamentos de anacrónica glória ou se, em vez disso, eram de humilde
conformação com os factos e a velhice. Talvez gozasse apenas um raio de sol.
O fotógrafo
mostra-nos uma solidão, que não é só a do poder, mas mais importante do que
isso, o ângulo de que é tirada a imagem corresponde também a um juízo “objectivo”.
Vemos Salazar de costas, como se já se afastasse de nós, e vemo-lo pequeno, sem
dúvida por causa da distância, mas não é isso que a perspectiva nos faz “decidir”
no nosso foro interior. Essa perspectiva não é apenas espacial. É
fundamentalmente política.
Costuma dizer-se que
vemos melhor quando a poeira assenta. Por isso a História, se julgar apenas o
homem, será mais leniente.
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