terça-feira, 4 de janeiro de 2011

MARRANOS


Bar Mitzvah


“De acordo com Isaac Orobio de Castro, um professor de filosofia que tinha vivido na Ibéria durante anos como um judeu encoberto (closet jew), alguns deles tinham-se tornado ‘indescritíveis ateus’: estavam cheios de vaidade, orgulho e arrogância, gostavam de exibir os seus conhecimentos ‘contradizendo aquilo que não podiam compreender’, e sentiam que a sua perícia nas ciências modernas os punha acima ‘daqueles que de facto são educados nas leis sagradas.”

“The Case for God”    (Karen Armstrong)


A história dos chamados judeus marranos que, tendo obtido autorização para deixar Portugal (alguns deles depois de terem fugido de Espanha), tinham emigrado para o norte da Europa e, sobretudo, para a Holanda, onde deixaram de viver em guetos para se misturarem aos gentios e se entregarem com sucesso aos negócios, é, para a autora, o primeiro exemplo dos primeiros ateus no Ocidente.

Este caso demonstra também a importância do culto na manutenção da tradição religiosa. Os marranos, em Amsterdam, não deixaram de pensar como judeus, mas o que faziam  tinha já perdido todo o carácter litúrgico. Se o judaísmo sobrevive, possivelmente há quase três mil anos,  não o deve tanto ao seu Livro sagrado (que os marranos emigrados não deixaram de levar consigo), quanto às práticas cultuais e a um quotidiano infuso do simbolismo bíblico. Sem esquecer que a tradicional segregação dos judeus nos países europeus, confinados ao gueto, fomentou neles uma maneira de ser e não uma simples diferença de opinião.

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