quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A ADAPTAÇÃO ESQUIZOFRÉNICA

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“Os sistemas complexos são incapazes de apreender completamente a sua complexidade. Se o viessem a conseguir, seriam efectivamente já bem mais complexos do que o eram na origem, sendo dado que o sistema conteria além do mais uma descrição da sua própria complexidade. É por isso que, nos sistemas complexos, todas as operações são dispostas duma maneira redutora e isto tanto em relação à sua própria complexidade, como em relação ao seu ambiente. Em todo o caso, a complexidade constrange à selecção, e isso vale igualmente no caso de tentativas visando tematizar a própria complexidade. Cada auto-observação e cada auto-descrição deve, nessa medida, assentar numa auto-simplificação.”

“Politique et compléxité”   (Niklas Luhmann)



A economia dos economistas é, pois, uma auto-descrição  do sistema necessariamente simplificada e redutora. Porque, além do mais, foram obrigados a seleccionar em função dum modelo que é a “economia”.

Na falta duma representação completa do sistema (eles ocupam-se, em princípio, duma especialidade), não é menos necessária uma “identidade” que possa observar-se e descrever-se.

O especialista da economia é, assim, um observador implicado na sua selecção. Mas como é difícil separar os factos económicos da realidade social e política, a especialidade tende a tornar-se uma teoria geral, ou seja, uma ideologia, que continua tendo o sentido dum modelo económico. O tudo é político transformou-se, pois, no tudo é economia.

Luhmann diz outra coisa: “Quanto mais o equipamento semântico da auto-descrição é rico, mais o sistema pode fazer depender as suas operações internas dos acontecimentos exteriores que ele deve tratar como relevando do acaso (…)

Ora isto deve ler-se como uma espécie de adaptação “esquizofrénica” à realidade. Porque se a faculdade de dar sentido aos acontecimentos e às operações concomitantes depende da riqueza da descrição, o facto da exterioridade não poder ter um sentido e uma lógica próprias (decorrentes dum outro sub-sistema ou dum sistema mais abrangente), mas relevarem sempre do acaso, expõe-nos a grandes desilusões e a grandes perigos.

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