Oscar Wilde (1854/1900) |
“’Venha
mesmo assim.’, disse-me o barão, cuja
excitação mundana começava a cair, mas que sentia essa necessidade de
prolongar, de fazer durar as conversas que eu já havia notado em casa da duquesa
de Guermantes, tanto como em sua casa, e que, sendo particular a esta família,
se estende mais genericamente a todos os que, não oferecendo à sua inteligência
outra realização além da conversação, quer dizer, uma realização imperfeita,
permanecem insaciados, mesmo depois de horas passadas em conjunto e se
suspendem cada vez mais avidamente do interlocutor esgotado, do qual reclamam,
por erro, uma saciedade que os prazeres sociais não podem dar.”
“La
prisonnière” (Marcel Proust)
Sabe-se que Proust,
quando, enfim, “meteu mãos à obra”, considerava um desperdício o tempo roubado
à escrita, incluído o da própria amizade.
Temos de valorizar
toda a sua vida mundana anterior, como uma espécie de “acumulação primitiva”
que, a seguir, se desenvolveu num “modo de produção” absolutamente prodigioso.
Mas era Oscar Wilde
que dizia, e, parece-me, sem o lamentar, que o melhor do seu talento o tinha
esbanjado nos salões e não no seu espirituoso teatro. Acredito que seja genuíno
o prazer de exercer a inteligência numa vida mundana, como a que o nosso Marcel
levava, com zelo tal que o confundiram com um “snob”. Quando se encerrou,
porém, na sua caverna de asmático, para desenrolar a “Recherche” até poder
declarar a Céleste, a sua governanta, com o alívio de quem acaba de salvar para
sempre a sua alma, que tinha escrito a palavra fim, todo esse prazer lhe
pareceu inconsequente. Prazer que, retrospectivamente, fez do falso mundano um
agente secreto do nosso prazer, do nosso supremo prazer de desfrutar da sua
leitura.
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