“Mas,
diz Philippe Ariès, enganar-nos-íamos se acreditássemos que a religião é co-extensiva
à cultura; uma parte das atitudes em relação ao além varia segundo as crenças,
mas uma parte somente; a fé na imortalidade pessoal não impedia os cristãos de
querer também sobreviver nos seus descendentes; não excluía também uma outra ‘vaidade’,
o esplendor dos funerais: acontecimento metafísico, a morte era também um
acontecimento social (…).”
“in “Le pain
et le cirque” de Paul Veyne)
Se há alguma
incoerência em apostar nos dois mundos, na nossa crença no além e na vaidade
mundana, incoerência que, nos nossos dias, é a dos assumidamente ateus que
tomam parte em certos ritos religiosos, porque é esse o costume, ela não se
deverá tanto à falta de fé ou de convicção quanto, de facto, à impossibilidade
de vivermos numa sociedade completamente desritualizada.
Nesse sentido, os
mais coerentes são sem dúvida os eremitas que, longe dos homens, podem ter uma
só crença e um só culto.
Tudo o que os homens
fazem em conjunto tem qualquer coisa de culto, desde o trabalho ao prazer.
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