quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

TELEVANGELISMO ECONÓMICO




Derrida, numa entrevista à revista “Autrement”, instado a pronunciar-se sobre o problema da dependência da droga, começou por reconhecer que não era um especialista, mas disse a seguir outra coisa: “Certamente reconhecerá que neste caso estamos a lidar com algo distinto dum domínio delimitado. Os critérios de competência, e especialmente de competência profissional, são aqui problemáticos. No fim de contas, serão justamente estes critérios que nos veremos obrigados a discutir.”

Um domínio não delimitado por excelência é o da economia, onde se cruzam as disciplinas mais complexas, a ponto da economia ou ter de ser uma ciência “total” ou não ser coisa nenhuma.

A competência dos que falam em nome da economia “restrita” ou baseada em modelos matemáticos, é a dum químico para falar do problema da droga.

Que os economistas podem ser os mais serviçais dos ideólogos, prova-o o papel da maioria dos graduados pelas grandes escolas americanas na justificação da total desregulação da economia que nos levou ao estado em que nos encontramos. Fora desse papel, vemo-los, sobretudo, dedicados à prática de profecias do pretérito ou do televangelismo sobre a desgraça dos outros.

É quase cómico que, depois, da cegueira que revelaram sobre o colapso do “melhor dos mundos”, façam ainda pose de competência sobre o futuro, como se a sua “bola de cristal” não estivesse de todo desacreditada.

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