“E
a Necessidade, lembra Eurípides por tê-la conhecido ‘atravessando as Musas e os
cimos’, sem nunca ‘nada ter encontrado de mais forte’, é a única potência que
não tem altares nem estátuas. Ananké é a única divindade que não escuta os
sacrifícios.”
“Les noces de
Cadmos et Harmonie” (Roberto Calasso)
A omnipotência não
era um atributo dos deuses do Olimpo, nem do próprio Zeus. Todos obedeciam ao
que “tem que ser”. Essa ideia aproxima-se muito do que pensamos da lei em geral
e, particularmente, da lei que julgamos reger o universo.
Deuses que, por
exemplo, se deixam apanhar na rede do amor ( o amor é a única actividade de
Zeus parece pensar a ciumenta Hera), não são assim tão diferentes de nós que,
na flor da idade, nos podemos sentir deuses.
Os Gregos sabiam que
não fazia sentido erguer um altar à Necessidade, o que faz jus ao espírito que
inventou a lógica.
Enquanto que um Deus omnipotente
é uma projecção da nossa fraqueza e compensa-a junto dos espíritos fracos, a
Necessidade não admite compensação nenhuma. O que corresponde à nossa situação
de mortais e à impossibilidade de conhecermos em nós tudo o que não pessoal.
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