sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

ANANKÉ



“E a Necessidade, lembra Eurípides por tê-la conhecido ‘atravessando as Musas e os cimos’, sem nunca ‘nada ter encontrado de mais forte’, é a única potência que não tem altares nem estátuas. Ananké é a única divindade que não escuta os sacrifícios.”


“Les noces de Cadmos et Harmonie” (Roberto Calasso)



A omnipotência não era um atributo dos deuses do Olimpo, nem do próprio Zeus. Todos obedeciam ao que “tem que ser”. Essa ideia aproxima-se muito do que pensamos da lei em geral e, particularmente, da lei que julgamos reger o universo.

Deuses que, por exemplo, se deixam apanhar na rede do amor ( o amor é a única actividade de Zeus parece pensar a ciumenta Hera), não são assim tão diferentes de nós que, na flor da idade, nos podemos sentir deuses.

Os Gregos sabiam que não fazia sentido erguer um altar à Necessidade, o que faz jus ao espírito que inventou a lógica.

Enquanto que um Deus omnipotente é uma projecção da nossa fraqueza e compensa-a junto dos espíritos fracos, a Necessidade não admite compensação nenhuma. O que corresponde à nossa situação de mortais e à impossibilidade de conhecermos em nós tudo o que não pessoal.

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