Em “Hereafter”, Clint
Eastwood surpreende-nos com um tema muito polémico: o além-vida. Não para
entrar no domínio do espiritual ou da alta cavalaria metafísica, mas como um
empirista que recolhe “factos” (mesmo se são “apenas” psicológicos) e se firma
no bom senso do americano médio.
George Lonegan (Matt
Damon) tem o dom (ele diz que é uma maldição) de contactar os mortos, tocando
as mãos dos vivos. Este é, como se sabe, um terreno fértil para a charlatanaria, pois tem um “mercado”
inesgotável. A necessidade de voltar a “ver”, sobretudo, os que partiram dum modo abrupto, por assim
dizer, sem se despedirem, é decerto sentida por muitos, e nem todos podem
ultrapassá-la com uma sã filosofia ou com a religião tradicional.
George resolveu
abandonar a prática, que o impedia de levar uma vida normal, fazendo-o parecer
uma espécie de “freak”. Mas há sempre quem o reconheça e o obrigue a reincidir.
A incredulidade
revelada pelos terceiros não parece ser compartilhada por Clint. Ele, pelo
menos, concede o benefício da dúvida. Mas, como se o desafio fosse de mais para
o seu jogo, a certa altura, o filme sobre o Além transforma-se, subitamente,
numa história de amor. O “freak” encontra a sua alma gémea, uma francesa que “morreu”
durante o tsunami de 2004 na Indonésia e escreveu um livro sobre as visões que
então a assaltaram.
Clint Eastwood dá-nos
um filme falhado, mas empolgante, com o seu quê de provocatório.
1 comentários:
De acordo.
Gostei de ser o Marcus o que se colocou num nível igualitário de intercâmbio e da ideia de que somos parte dos que partem.
Comoveu-me imenso, isso.
Maria Helena
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