“Mas
precisamente este problema de racionalidade não se podia colocar aos Antigos, e
era por isso que eles construíam tanto. Não podiam supor que as técnicas e as
preferências devessem evoluir muito: o mundo está terminado, todas as técnicas
por descobrir foram-no já ou quase, a vasta habitação que é o universo está
construída e mais ou menos completamente equipada; a sua mentalidade era a
desta criança de cinco anos que, vendo construir um imóvel, me perguntava com
um espanto um tanto lasso: ‘Papá, quando é que todas estas casas estão
construídas?’ Os Antigos também não tinham a escolha entre as despesas úteis e
aquelas que o são menos, e não queriam tê-la.”
“Le Pain et le
Cirque” (Paul Veyne)
Embora não possamos
fazer um cálculo racional sobre, por exemplo, as necessidades mundiais de
petróleo dentro de vinte anos, não nos encontramos no estado de inocência dos
Romanos de que fala Veyne e, por isso, as projecções não nos faltam.
Se as previsões dos
especialistas falham tão calamitosamente, como se viu, na presente crise
financeira, isso não quer dizer que possamos dispensá-las. A razão é que
precisamos dum mundo minimamente “previsível” para termos a ideia de que o
controlamos. Não controlamos nada, evidentemente. Um fenómeno natural e outro
político provam isso mesmo: 1755 para nós e 2001 para os Americanos.
Tal como a criança de
cinco anos que não compreende a mudança num mundo “perfeito”, quase podíamos
dizer que os Antigos viviam como a cigarra da fábula, porque o futuro, para
eles, nunca teria uma revolução na terra (essa ideia operária de consertar a
máquina avariada ou que não funciona), nem um novo mapa das estrelas no céu.
Em contrapartida, nós
poderíamos ser a formiga, embora cega, se não tivéssemos a roleta no centro da
economia.
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