“Estes caminhos da sorte são enigmas da Providência que não nos cabe desvelar, mas que não devem nunca seduzir-nos; a prosperidade do mau é apenas uma prova a que a providência nos submete, ela é como o raio cuja luz enganadora embeleza só por um instante a atmosfera para precipitar nos abismos da morte o infeliz que ela deslumbra…”
“Les Infortunes de la Virtu” (Marquês de Sade)
É Juliette, a irmã viciosa, reflectindo sobre o seu destino e que parece dar o “justo” valor à sorte que a tem favorecido, quando comparada com a espécie de perseguição de que é vítima Justine, apesar da sua virtude inflexível.
Nesta fase da obra de Sade, a teologia ainda vem salvar a justiça no sentido cristão, porque a condenação eterna espera a pecadora e a reparação e a glória a boa irmã que sofre pela própria inocência, como Job.
Juliette não tem a desculpa de se ter deixado seduzir pela luz da tempestade. Ela é o anjo caído que desafia o poder divino. Não é o prazer que lhe interessa (aliás cada vez mais sujeito à lei da apatia pela sua extensão), mas o Mal, isto é, o ressentimento infantil em relação a Deus que ditou a sua Queda.
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