segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O ANEL DA INJUSTIÇA


Platão




Giges é o pastor da Lídia que encontrou um anel que lhe permitia tornar-se invisível e dessa forma obter tudo o que desejava. Assim se tornou rico e depois de seduzir a rainha, matou o rei para casar com ela e usurpar o poder.
Platão serve-se deste mito na “República” para mostrar que todos nos encontramos na situação de Giges e que se queremos ser justos, não podemos usar a magia.

Esta argumentação fará rir os modernos Cálicles que vêem na injustiça, com tal certeza de impunidade, a maior das vantagens.

Mas se as leis poderiam não punir Giges, os excessos da injustiça encarregariam a natureza de fazer a lei em nós mesmos. O domínio de si próprio é a própria justiça, no pensamento platónico.

Emmanuel Levinas diz que este mito é “o próprio mito do eu e da interioridade que existem não reconhecidos”. De facto, acreditamos que no nosso interior somos invisíveis e que por isso podemos servir-nos à vontade do anel. Mas isso só seria possível através da duplicidade que nos permitisse ter a fealdade na alma e uma aparência de bem no exterior.

Todos sabemos o que uma contradição tão violenta pode causar à saúde do corpo e à inteligência do espírito. O anel de Giges é uma evidência para todos e uma tentação que a maioria supera.

Porque o mito revela-nos que essa não é a situação real. Só pensamos acima de nós, como se só a humanidade pensasse, e a justiça não é uma coisa que possamos diferir porque dela depende o reconhecimento do outro e a própria consciência do que somos.

Como diz Alain, Platão convida-nos a lançar fora o anel.

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