"Só uma 'mudança radical' (umwältzung, a expressão favorita de Hitler, que Martin Heidegger frequentemente citava) poderia 'rejuvenescer' a Alemanha e repor a sua liderança espiritual e política no mundo."
"Hannah Arendt e Martin Heidegger" (Elzbieta Ettinger)
Mudar as raízes da sociedade é uma tarefa prometeica, infinitamente mais complexa do que criar a vida a partir dos "quatro elementos". Corresponde, no fundo, à tradição dos alquimistas da pedra filosofal e da transformação dos metais em ouro, mas é ainda, talvez, mais ambiciosa.
Lenine exausto, deitado de costas no soalho do seu gabinete no Smolny, depois dos decretos que criavam o novo a partir do caos, deve ter tido a visão da montanha que sobre ele se abatia.
É a alquimia um sonho proletário ou um sonho burguês? A resposta está dada se pensarmos que o impaciente companheiro (como lhe chamava Alain) não pensa para além dos seus instrumentos e os seus problemas são verdadeiros problemas, isto é, de sobrevivência. Mas o burguês é facilmente presa dos monstros criados pela razão pura. Só ele pode pensar que são possíveis mudanças radicais.
A verdade é que mesmo o paradigma das revoluções, a Revolução Francesa, foi tudo menos uma mudança radical. Depois da paranóia do Directório, voltou a tirania, e depois desta os barões, os Turelure de Claudel ("L'Otage") e a sempiterna religião. A Revolução Francesa talvez seja mesmo um caso-limite do princípio de Lampedusa ("É preciso mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma"). Tudo depende da credulidade dos povos. Para alguns essa mudança superficial não pede menos do que a cabeça do rei.
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