terça-feira, 28 de setembro de 2010

LUZ DE INVERNO

"Luz de Inverno" (1962, Ingmar Bergman)

 

O tempo sombrio e invernoso é como a alma do pastor Tomas (Gunnar Björnstrand) que cumpre os ritos com todo o zelo de que é capaz, mas que por dentro está morto, segundo as suas próprias palavras. Desde a morte da mulher, a liturgia e os deveres exteriores do sacerdote regulam a sua vida e dão-lhe a força mecânica para continuar. Märta (Ingrid Thulin) confessa-lhe um amor tão desesperado que Tomas o rejeita, considerando-o uma caricatura do seu primeiro e único amor. O amor de Märta é um acto da vontade de se salvar. Todos os personagens que gravitam à volta do pastor sofrem da mesma falta de fé. A celebração final para uma igreja vazia, excepto para os companheiros do naufrágio espiritual, transmite-nos a mais absoluta falta de esperança. 

Depois de “abrirem o livro”, um sobre o outro, Tomas, inesperadamente, convida Märta a acompanhá-lo a casa da viúva do homem cujo suicídio ele não foi capaz de evitar. Ela diz que, apesar de todo o seu orgulho, Tomas não pode viver sozinho. Precisa pelo menos dos outros como figurantes do serviço religioso, dos representantes dos crentes, mesmo se, de facto, discutem a ênfase do sofrimento de Cristo (foram só 4 horas, diz o doente crónico) ou tenham decidido dedicar-se a alguém que não a quer, como Märta.

Não há ilusões neste filme. Apesar do frio e do “silêncio de Deus”, não há ternura, nem esquecimento. A lucidez é a única moral. As personagens sofrem sem procurarem uma escapatória como faria qualquer animal saudável.

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