Léon Blum em 1936
“Quando estas medidas surgiram como o último recurso, o momento para as impor tinha passado. Era preciso prever. Era preciso aproveitar o momento em que o campo de acção do governo era maior do que o poderia alguma vez vir a ser a seguir para fazer passar pelo menos todas as medidas nas quais tinham tropeçado todos os governos de esquerda precedentes e mais alguns outros. É aí que se reconhece a diferença entre o homem político e o amador de política. A acção metódica, em todos os domínios, consiste em tomar uma medida, não no momento em que ela deve ser eficaz, mas no momento em que ela é possível tendo em vista aquele em que será eficaz.”
“Méditations sur un cadavre” (Simone Weil)
O cadáver é o governo da Frente Popular. Em Junho de 1937, Léon Blum tinha acabado de apresentar a sua demissão.
O que me atrai neste texto é uma certa ideia de oportunidade política. Como se a Revolução ou outro grande acontecimento fosse um comboio que se pode perder se não estugarmos o passo.
As greves e a ocupação de fábricas que se seguiram à vitória da Frente Popular absorveram de facto toda a atenção do país, quando “os burgueses tremiam perante a simples palavra de soviete”. Então, algumas medidas sempre adiadas, como a de impor “até certo ponto o civismo em matéria financeira”, teriam sido possíveis. Mas o governo e a esquerda deixaram passar o momento, também eles absorvidos pelos acontecimentos.
Não sei se esse “comboio” levaria a algum lado, quando o momento de euforia e de confusão tivesse passado e a verdadeira relação de forças se mostrasse. É como na guerra. Nenhum país é conquistado para sempre. Só enquanto se sentir mais fraco. Os Romanos aprenderam que a manutenção do império era, na realidade, mais difícil do que a conquista.
E já vimos demasiados exemplos de regresso ao passado só porque as forças mudaram. Nada de permanente se constrói sobre a força, seja ela apoiada nas melhores razões.
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