quarta-feira, 22 de setembro de 2010

OS LIBERTINOS


Marquês de Sade (1740/1814)


“Um paraíso terrestre; bela casa, soberbo jardim, gente selecta, admiráveis mulheres; quando de repente, o lugar das execuções foi colocado positivamente debaixo das nossas janelas e o cemitério dos guilhotinados mesmo no meio do jardim. Não foram menos, meu caro amigo do que mil e oitocentos, em cinco dias, dos quais um terço da nossa infeliz casa. (…) Com tudo isto, não ando bem, a minha detenção nacional, a guilhotina debaixo dos olhos, fizeram-me pior do que alguma vez poderiam fazer todas as Bastilhas imagináveis.”

(Marquês de Sade, 2 Pluvioso, Ano III, citado por Pierre Klossowski)


Klossowski diz que Sade, não sendo um homem para encontrar “qualquer satisfação moral no desencadeamento revolucionário, não esteve longe de sofrer a carnificina legalizada pelo Terror como uma caricatura do seu sistema.”

O libertino da época de Sade é um privilegiado com má consciência. Não podendo justificar a posição de que goza com a vontade divina, arrasada pelos Filósofos, sem qualquer ilusão sobre um pretenso direito natural, nem outro recurso para além do ateísmo, negação ainda de Deus, só tinha dois caminhos: o encarniçamento revolucionário, como o de tantos membros da aristocracia “mais papistas do que o papa” (embora fossem mais célebres e mais apaixonantes os casos de ambiguidade, como o de Mirabeau), ou o de se tornar radicalmente cínico e viver como se o mundo não tivesse amanhã e devesse ser votado à destruição.

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