quarta-feira, 5 de maio de 2010

A ÚLTIMA VERDADE


Antoine Lavoisier (1743/1794)


"O público instrui-se mal, porque imagina que a última verdade é o que lhe convém. Mas a verdade não pode ser assim despejada dum espírito noutro; para aquele que não a conquistou a partir das aparências ela não é nada. Quantas pessoas não abriram o jornal dizendo para si mesmas: 'Vamos lá a ver se o princípio da conservação da energia continua verdadeiro!' Vã ambição; não se pode renunciar àquilo que não se tem. É preciso primeiro possuir o princípio e experimentá-lo em milhares de exemplos, só para chegar a conceber o segundo princípio, dito de degradação, que não destrói o primeiro, e que não tem qualquer sentido sem o primeiro. É preciso ter aplicado muitas vezes um e outro para estar em condições de duvidar de um ou de outro. A dúvida é uma passagem; para a experimentar, é preciso primeiro sentir sob o pé uma inquebrantável resistência. A dúvida é o sinal da certeza."

"Propos sur l'Éducation" (Alain)


Se a "última verdade" não nos pode ensinar é porque é como um pássaro empalhado que não podemos alimentar. Não há maneira de estarmos certos ou errados sobre ela, só porque não a tornámos nossa. Em que é que ela difere do resultado instantâneo duma calculadora?

É por isso que aqueles que partem dos seus erros e dos seus preconceitos têm onde pôr o pé e podem ser modificados pela ideia que se desenvolve. É esse o movimento interno do compreender. Um erro que seja nosso vale, assim, mil verdades exteriores com as quais nunca chegaremos a lado nenhum.

E é por isso que a infância é rica, não pelo que tem, mas pelo que promete. São seus todos os erros, mas também todas as verdades são possíveis.

Os adultos, dum modo geral, continuam a aprender com a vida, mas no terreno em que se enganam mais: o das relações humanas. Quanto à natureza e à poesia da vida não lhes arrancaremos mais do que "verdades".

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