sábado, 15 de maio de 2010

A TENTAÇÃO


"Conversão de S. Agostinho" (Fra Angelico)

"Não se conhece o homem a si mesmo, se não aprender sobre si mesmo na tentação." (Nescit se homo, nisi in tentatione discat se)"

Santo Agostinho


Oscar Wilde dizia que era capaz de resistir a tudo, menos… a uma tentação. Depreende-se que Agostinho quisesse dizer que só se aprende resistindo, porque é assim que ganhamos força e podemos emergir da onda que nos quer arrastar. As tentações ou as provas de força são, portanto, necessárias para conhecermos os nossos limites. Mas é isso conhecermo-nos a nós mesmos, ou é só conhecermos o que vale a nossa vontade?

A favor dessa distinção está o facto deste doutor da Igreja ter sido o primeiro teórico da vontade dividida ("tornei-me um problema para mim mesmo": quaestio mihi factus sum).

Prescinde-se aqui da figura do grande divisor, que atravessa o nosso pensamento e nos aliena de nós mesmos: o Diabo renegadíssimo. E a tentação sendo, aos olhos de Agostinho, o que nos desvia de Deus, pode ter uma qualidade quase mecânica (no fundo, o mal é um mecanismo).

De qualquer modo, sendo menos prática, a moral socrática do conhece-te a ti mesmo é muito mais ambiciosa.

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