domingo, 23 de maio de 2010

ABERTURA DE ESPÍRITO?


Confúcio (551/479 A.C.)


"Do Confuciano 'Não faças aos outros o que não queres que eles te façam a ti', ao Cristão: 'Faz aos outros como querias que eles te fizessem', é um avanço real. A moralidade de Nietzsche é uma mera inovação. A primeira é um avanço porque ninguém que não admitisse a validade da velha máxima poderia ver a razão para aceitar a nova, e quem quer que aceitasse a velha imediatamente reconheceria a nova como uma extensão do mesmo princípio. (…) Mas a ética nietzscheana só pode ser aceite se estivermos dispostos a mandar para o lixo a moral tradicional como um simples erro e pormo-nos então numa posição onde não encontraríamos fundamento para qualquer juízo de valor."

"The Abolition of Man" (C.S. Lewis)


A ideia de Lewis é que os nossos princípios fundamentais, a razão prática em que nos baseamos para os actos com mais significado para nós, não resistem a uma crítica "destrutiva", porque não podem ser demonstrados (nada que Gödel já não tivesse aplicado à própria matemática). Esses princípios presidem à existência de qualquer sociedade sob a forma duma certa tradição. Não pertencem à natureza, nem nasceram dum "decisão" humana, mas são a única fonte dos juízos de valor. O único progresso possível seria interior a esta nebulosa metafísica e eis por que, segundo Lewis, "nunca houve, nem nunca haverá, na história do mundo, um juízo de valor radicalmente novo."

Nietzsche foi um dos que tentou criar novos valores, abrindo a porta ao niilismo moderno. Em consequência disso, cada vez mais pessoas pensam que a sociedade pode dispensar de todo os valores, ou criar, para cada indivíduo, valores à la carte.

A nossa mentalidade encurrala-nos numa situação deveras difícil, porque queremos ter uma "mente aberta". Mas este autor diz-nos que ter uma mente aberta "em relação aos últimos fundamentos, quer da Razão Teórica, quer da Razão Prática é uma idiotia." Por um lado, não podemos deixar de sujeitar esses princípios a um exame da "razão científica", já que expulsámos o sagrado das nossas vidas, por outro, precisamos dos valores cujos fundamentos destruímos com essa inconclusiva "investigação".

Haverá, realmente, limites à abertura do espírito e à utilidade da inovação?

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