Publius Ovidius Naso (43 a.c/17 ou 18 a.d.)
"Quando um homem tem uma paixão, já não é autárquico e nada podia ser mais contrário à moral antiga. Esta não era puritana, nem kantiana: era a receita da felicidade (do mesmo modo que no Extremo-Oriente se chamam filosofias ou sagezas a receitas de auto-transfiguração) e o meio presumido de se ser feliz era limitar as ambições e os desejos, a fim de dar o menos azo possível às coisas e aos outros para nos ferirem."
"L'élégie érotique romaine" (Paul Veyne)
Talvez que esse modelo de controle sobre os seus próprios actos, essa ideia de liberdade, fosse o contraponto da escravatura então instituída. Dos escravos não se esperava que fossem senhores de si próprios (contra a moral de um Epicteto e, já nos nossos tempos, a dialéctica hegeliana). Tudo o que pudesse sugerir a escravidão era considerado vil, com a excepção da licença poética (os elegíacos estudados por Veyne podiam declarar-se "escravos" duma liberta).
Mas essa problemática deixou quase de fazer sentido nos nossos dias e ninguém já fala de paixões. Temos explicações mais do que suficientes nas "condições de existência" para tudo o que nos desvie de um qualquer caminho que pudéssemos ter idealizado. E não nos sentimos mais infelizes por isso porque não temos de nos mostrar superiores a ninguém.
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