sexta-feira, 21 de maio de 2010

O TREINO DAS EMOÇÕES


Clive Staples Lewis (1898/1963)


"Permanece ainda verdadeiro que nenhuma justificação da virtude dará ao homem a capacidade para ser virtuoso. Sem a ajuda de emoções treinadas o intelecto é impotente contra o organismo animal. Eu mais depressa jogaria cartas com um homem bastante céptico em relação à ética, mas que tivesse sido educado na convicção de que "um cavalheiro não faz batota", do que com um irrepreensível filósofo de moral que tivesse sido educado entre batoteiros."

"The Abolition of Man" (C.S. Lewis)


Era este o entendimento de Platão, que queria que o coração (the chest, na versão de Lewis), sede da coragem, fizesse a ligação entre o cérebro (demasiado abstracto) e o ventre (demasiado visceral).

Vê-se na questão das maneiras o que significa essa ligação. Um homem que tem apenas a ideia do que é uma boa atitude nunca será espontâneo. Só o cálculo o impedirá de cometer gaffes. Como isso nem sempre é possível e, além do mais, a "consciência" é desprovida de graça e naturalidade, não há nada como saber essas coisas como que por instinto, e é isso que quer dizer educar as emoções naquela citação. Como Descartes e outros sabiam, é possível tirar um bom ou um mau partido das paixões, mas sem elas ficamos só com o moralismo anémico de um velho.

A minha ideia é de que hoje se perdeu essa ciência e que as paixões deixaram de ser vistas como tal (como algo que se "sofre"). Já não são a energia do homem virtuoso, mas a expressão do indivíduo, e isso só não é um direito porque, eventualmente, tornaria a sociedade impossível.


0 comentários: