"Veja o senhor, não é a subordinação nela mesma que me choca, mas certas formas de subordinação comportando consequências moralmente intoleráveis. Por exemplo, quando as circunstâncias são tais que a subordinação implique não somente a necessidade de obedecer, mas também a preocupação constante de não desagradar, isso parece-me duro de suportar. Por outro lado, não posso aceitar as formas de subordinação em que a inteligência, o engenho, a vontade, a consciência profissional só intervêm na elaboração de ordens pelo chefe, e em que a execução exige somente uma submissão passiva na qual nem o espírito nem o coração têm parte; de modo que o subordinado joga quase o papel duma coisa manipulada pela inteligência de outrem. Tal era a minha situação como operária."
Simone Weil, carta de Abril de 1936 a Victor Bernard (engenheiro, director técnico das oficinas Rosières)
Será possível, como na depuração química ou na electrólise, separar todo o elemento pessoal do poder ligado a uma função? Quando essa função assume um rosto e uma personalidade que incomparavelmente aumentam a sua eficiência, como na política, isso parece utópico. Nesses casos, o homem é a função. Todos já encontrámos o exemplo do chefe severo e quase inacessível que fora do trabalho retira a sua máscara para se revelar simplesmente humano.
A identificação do homem e da função já deu lugar a mais de um bestiário. Como nas fábulas, é essa "paixão predominante" que lhe atribui o focinho do animal.
Simone Weil aspira a uma situação em que as relações do poder apareçam nuas e determinadas apenas por uma necessidade objectiva. Como fazer aceitar, sem sentimento de discriminação e sem humilhação, um despedimento quando os próprios números, os gráficos, as estatísticas não são suficientes para afastar a suspeita duma antipatia, duma preferência negativa, da momentânea hybris de ter nas mãos o destino do semelhante?
"Não haveria um meio de estabelecer – fazendo-o saber, bem entendido – não importa que outro critério não submetido ao arbitrário: encargos de família, antiguidade, tiragem à sorte, ou uma combinação dos três?"
Mas esta pergunta de Simone já é um escândalo para o poder patronal.
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