sexta-feira, 7 de maio de 2010

DEFIXIONES



"(…) na Grécia e em Roma, quando se quer mal a alguém, essa pessoa é votada aos maus demónios enterrando um objecto maléfico ou um tablete de maldição perto da sua casa ou junto dos túmulos. Todo o infeliz podia pois supor que um inimigo o tinha enfeitiçado. Os maus sonhos provavam que no momento mesmo em que se desenrolava o pesadelo alguém estava em vias de enfeitiçar a pessoa dessa maneira (…)"

"L'élégie érotique romaine" (Paul Veyne)


Não é possível descrever melhor a alma promíscua e a mentalidade supersticiosa. Parece que a individualidade é apenas uma ilusão. É um estado quase sibilino, em que tudo é presságio e tudo serve de prova para as paixões.

Sabemos que a crença na feitiçaria sobreviveu até aos nossos dias e que a independência dos espíritos está à mercê de qualquer perturbação social. Não precisamos de chegar ao pânico para sentirmos o poder dos "demónios", termo que podíamos bem substituir pelo de colectivo, porque tudo o que nos rouba a nós mesmos é "demoníaco" e nada nos transporta melhor para fora de nós do que a influência dos outros "en masse".

Alguns juízos públicos apresentados na televisão são verdadeiras ordálias anteriores no espírito ao concílio de Latrão (1215).

Paradoxalmente, o progresso dos media criou um novo tipo de promiscuidade mais eficaz do que os tabletes de maldição.

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